quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Fala do faraó ao menino


Sebastião Salgado

Fala do faraó ao menino 

No deserto que corta a cidade
Decerto de bocas e crateras,
Fartas de areia sol e escorpiões,
Há um José no buraco do esgoto.

Há um menino à espera do Egito.
Não revela sonhos de faraós,
Desvela apenas o próprio infinito
Desperto certo da secura do céu.

Dias-noites caem nos olhos,
Passam camelos dromedários,
Monstros de encovadas corcovas,
corcovados de braços fechados.

Sozinho, assobiave Maria.
Jogam-lhe  moedas e partidas,
Enquanto espera uma corda
Que o leve à terra prometida.

(José, se eu não tivesse mãos só acostumadas a volantes, as estenderia à extensão de tua solidão

e te conduziria a meus ternos e relógios.)

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