Sebastião Salgado
Fala do faraó ao menino
No deserto que corta a cidade
Decerto de bocas e crateras,
Fartas de areia sol e escorpiões,
Há um José no buraco do esgoto.
Há um menino à espera do Egito.
Não revela sonhos de faraós,
Desvela apenas o próprio infinito
Desperto certo da secura do céu.
Dias-noites caem nos olhos,
Passam camelos dromedários,
Monstros de encovadas corcovas,
corcovados de braços fechados.
Sozinho, assobiave
Maria.
Jogam-lhe moedas e
partidas,
Enquanto espera uma corda
Que o leve à terra prometida.
(José, se eu não tivesse mãos só acostumadas a volantes, as
estenderia à extensão de tua solidão
e te conduziria a meus ternos e relógios.)
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