Ascese
Meu choro é ladainha de carpideira,
lágrimas pagas de sal
afluem do amazonas deserto
de meus olhos,
deságuam poluídas
no cardume em desespero das ruas.
Arrancam a martelo
as pedras de minhas
páginas,
raspam a ferro
o ouro de minhas
notícias.
Ajoelho-me,
santo,
e imploro
a esmola dos rumores.
Jazo sem postes o sepulcro das esquinas,
escuto o réquiem indiferente dos pássaros.
Torno-me um nome na rotina das missas.
Não choro
não trepo
não como,
só fedo
e cheiro.
Levo comigo a ternura branca dos ossos,
as narrativas não tecidas dos cabelos.
Sou mais que um rasgo roto no livro da história:
verso livre
sem rima
nem métrica,
mas mesmo assim:
POEMA.
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