sexta-feira, 7 de março de 2014

Gosto não se discute?



Gosto não se discute, estética sim.  A estética é a ciência do belo e o conceito deste é tão relativo quanto à idéia que construímos sobre o feio. Lembro-me de um episódio da série de animação “Caverna do dragão” em que um personagem foi transformado num homem-sapo. Vivendo com os outros homens-sapo que o haviam raptado, sofria profundamente com sua aparência, fato que os demais não entendiam por achá-lo extremamente belo. No dia em que o feitiço se desfez e ele voltou a ser humano, os homens-sapo correram assustados por causa de sua “cara horrível”.
O gosto pode ser passional, pessoal e acrítico. Posso gostar de um livro exclusivamente pelo fato de ele me entreter e ser de fácil compreensão. Meu prazer em dançar uma música desenvolve em mim um gosto especial pelo ritmo que me embala. Dar muitas risadas durante a exibição de um filme leva-me a classificá-lo como excelente, independentemente de suas qualidades técnicas. O gosto também é resultado da educação recebida pelo sujeito. Aprendemos a gostar predominantemente das músicas e dos filmes da televisão, acreditando ingenuamente que gostamos do que é melhor, já que para grande maioria, o melhor é o que é exibido pela telinha.
Assisti recentemente ao vídeo clip da “cantora” Valeska Popozuda. Diverti-me bastante, mas  é um dos piores produtos que já vi do gênero. Não associo o belo à perfeição moral ou à reprodução da natureza como alguns filósofos da Antiguidade, mas entendo que toda linguagem artística possui critérios próprios de composição, que são mutáveis, pois acompanham a evolução dos outros ramos da cultura. Porém o único critério que se observa na composição de obras como o referido clip é o do faturamento rápido. Este tem sido também o critério de filmes como Crô e toda aquela série  com comediantes da Rede Globo que apenas reproduzem as velhas piadas contadas todos os sábados no “Zorra Total”.  São filmes ruins, mas isso não tem nada a ver com gosto. Afinal “há gosto para tudo”.
Ao afirmarmos que gosto não se discute e assim deixarmos também de discutir estética, permitimos que grandes artistas percam espaço para  caça-níqueis que não se ocupam do belo e formam um público cada vez mais numeroso de pessoas incapazes de perceber a diferença (estética) entre uma comédia do Leandro Hassun e um filme do Wood Allen. Tenho o direito de (por gosto) preferir o Hassum, mas não posso ser incapaz de reconhecer as qualidades evidentes em filmes como Blues Jasmine (último do Wood Allen). O clip da “popozuda” termina com ela sentada, acariciando um tigre de bengala. Que bela oportunidade o animalzinho perdeu!





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