Gosto não se discute, estética sim. A estética é a ciência do belo e o conceito
deste é tão relativo quanto à idéia que construímos sobre o feio. Lembro-me de
um episódio da série de animação “Caverna do dragão” em que um personagem foi
transformado num homem-sapo. Vivendo com os outros homens-sapo que o haviam
raptado, sofria profundamente com sua aparência, fato que os demais não
entendiam por achá-lo extremamente belo. No dia em que o feitiço se desfez e
ele voltou a ser humano, os homens-sapo correram assustados por causa de sua “cara
horrível”.
O gosto pode ser passional, pessoal e acrítico. Posso
gostar de um livro exclusivamente pelo fato de ele me entreter e ser de fácil
compreensão. Meu prazer em dançar uma música desenvolve em mim um gosto
especial pelo ritmo que me embala. Dar muitas risadas durante a exibição de um
filme leva-me a classificá-lo como excelente, independentemente de suas
qualidades técnicas. O gosto também é resultado da educação recebida pelo
sujeito. Aprendemos a gostar predominantemente das músicas e dos filmes da
televisão, acreditando ingenuamente que gostamos do que é melhor, já que para
grande maioria, o melhor é o que é exibido pela telinha.
Assisti recentemente ao vídeo clip da “cantora” Valeska Popozuda. Diverti-me bastante, mas é um dos piores produtos que já vi do gênero.
Não associo o belo à perfeição moral ou à reprodução da natureza como alguns
filósofos da Antiguidade, mas entendo que toda linguagem artística possui
critérios próprios de composição, que são mutáveis, pois acompanham a evolução
dos outros ramos da cultura. Porém o único critério que se observa na
composição de obras como o referido clip é
o do faturamento rápido. Este tem sido também o critério de filmes como Crô e toda aquela série com comediantes da Rede Globo que apenas
reproduzem as velhas piadas contadas todos os sábados no “Zorra Total”. São filmes ruins, mas isso não tem nada a ver
com gosto. Afinal “há gosto para tudo”.
Ao afirmarmos que gosto não se discute e assim deixarmos
também de discutir estética, permitimos que grandes artistas percam espaço para caça-níqueis que não se ocupam do belo e
formam um público cada vez mais numeroso de pessoas incapazes de perceber a
diferença (estética) entre uma comédia do Leandro Hassun e um filme do Wood
Allen. Tenho o direito de (por gosto) preferir o Hassum, mas não posso ser
incapaz de reconhecer as qualidades evidentes em filmes como Blues Jasmine (último do Wood Allen). O
clip da “popozuda” termina com ela sentada, acariciando um tigre de bengala.
Que bela oportunidade o animalzinho perdeu!